quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

BANANA DE 10

A juventude é um estado de espírito. Assim como a senilidade. Uns são velhos na juventude e outros jovens eternos. As novas tecnologias e a prática ou ausência de exercícios físicos têm levado jovens à velhice precoce, como inovado e transformado em quase meninos muitos idosos. E quando ao estado de espírito juvenil se agrega a massa muscular, melhor ainda. É como juntar à fome a vontade de comer.

  Desde os cinquenta anos que decidiu estar na moda e recuperar a juventude que havia congelado com a maternidade e a afirmação profissional. Tudo o que uma mulher normal e culta ansiava ter ela possui: casa própria, emprego bem remunerado, formação universitária com especialização, carros, possibilidade de viagens ao estrangeiro, filhos e até neto tem um. Apenas marido não possui. Aliás já teve, mas dispensou-o.
- Mulher do meu calibre precisa de homem e não de marido. - Justifica-se, sempre que abordada sobre a sua condição de eterna celibatária.
Martínia frequenta o ginásio há já seis meses.
- É preciso torrar a picanha e tonificar os músculos. - Diz ela sempre que questionada por colegas e coetâneas. Aos olhos de quem a vê pela primeira vez, encaixa-se nos trinta ou menos do que isso. Depende das roupas e do penteado. As rugas encontram máscara e a silhueta concorre com a filha mais nova.
No ginásio que frequenta estão homens e mulheres. Uns com idades mais avançadas que regulam o que o tempo trouxe de sobra e outros queimando tempo e ociosidade. Neste grupo, o segundo, estão as meninas que se aprontam para exuberantes "executivas de protocolo" e meninos que aguardam por acenos de mulheres que conjugam o verbo ter. Damos de companhia? Também os deve haver.
Nas conversas de fazer o tempo voar, enquanto trocam de equipamentos de musculação e calibragem, os homens e mulheres adultos falam sobre sumos e frutas naturais. A banana é mais para mulheres, sendo a manga a preferida dos descendentes varões de Adão.
Martínia, não fala. Ela aprecia. As canções desfilam apenas no seu íntimo. Os planos, os olhares disfarçados, os desejos e tédios, tudo um segredo.
Na quarta-feira, saiu mais cedo do que o habitual. Seis e meia da noite. Parou na esquina. Sacou de um cigarro e fingiu que o acendia. Anatólio, jovem de dezanove, ainda a poupar a barba e sem emprego nem universidade, vinha matutinando. Namorava a miúda da rua seguinte e tinham conversa adiada. A miúda pressionava um valor para retoques ao seu cabelo. Pelo caminho, Anatólio ensaiava a saída, ou melhor, a nova desculpa. Já tinha inventado o atraso do ordenado. Depois foi o desemprego, aproveitando-se do fecho de muitas micro. Desta vez nem sabe o que inventar.
Ao vê-lo passar, Martínia fingiu sentir-se mal, apelando por socorro.
Diligente, mas carente, Anatólio ofereceu o seu corpo-socorro e ajeitou a mulher no banco traseiro, levando-a à clínica mais próxima. Meio quilómetro, porém, Martínia se recompôs e propôs uma recompensa ao jovem diligente. Um jantar a dois regado de Moet Chandon.
O repasto levou tempo. O local era chique. Teve outros detalhes mais pitorescos. No fim, quando já se preparavam para sair, Anatólio procurou confessar que não teria como pagar tamanha e agradável surpresa, recebendo dela uma simples quanto seca provocação.
- Bastará a tua banana de dez!