No meio da floresta densa, Mwata
Cikambi e seus parentes ergueram um vilarejo com cerca de quinhentas almas. O
átrio estava arreado. Flores silvestres engalanavam a parede que expunha quadros
de figuras políticas do contexto estadual e internacional. Olhando para a
parede, frontal à vista da população e onde se acomodava a mesa do presidium,
Mwa Cikambi, o anfitrião, começou por apresentar ao povo os presentes, depois
os ausentes vivos e os ausentes finados.
- Povo, Gi!
- Gi! - Respondeu
eufórico e na mesma bitola.
- Este é o nosso novo comissário. O
nome dele é Satula Muryanga. Uma salva de palmas para o nosso chefe. - Solicitou.
- Puá, puá, puá! - O povo
correspondeu com três salvas sincronizadas.
- Com o comissário veio também a sua
camarilha.
Peço que se levantem para que o povo vos conheça. – Prosseguiu o regedor na sua
apresentação.
- Puá, puá! – Ouviram-se
duas salvas de palmas mais brandas.
-Povo! Aqui na parede, sob o olhar
silencioso de Lénine que está aqui, - mostrou a foto do pai da Revolução
Socialista de Outubro – está o camarada Manguxi. – Mwata Cikambi fez uma pausa
mais prolongada para aguardar pelas habituais salvas de palmas.
O povo assobiou de contente e soaram
estridentes rajadas de palmas antes inaudíveis.
- Ele é pai grande. – Gritaram
alguns jovens mais espevitados, referindo-se ao finado camarada Manguxi.
- Aqui, ao lado do camarada Manguxi - prosseguiu
Cikambi – está atento e silenciosamente o camarada António Jacinto do
Amaral.
- Puá, puá, puá! - Novamente uma
tripla rajada de palmas que serviram como barómetro do auditório.
Cikambi desvia o olhar para a foto
seguinte, a de Marx de quem não se recorda o nome, e anuncia:
- Este último, um camarada também
importante na história da nossa luta, é o camarada… - tentou buscar o nome
ou uma ajuda mas não a obteve e continuou – é o camarada amigo do camarada
Jacinto Amaral.
Nisso o povo que até ali se tinha
comportado de forma urbana começou a gritar: “o nduko; o nduko yaye?! [1]”.
O comissário teve de intervir...